2. Quanto custa vestir bem um idoso? Histórias de abusos comuns
2. Quanto custa vestir bem um idoso? Histórias de abusos comuns
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Adalgisa trabalhava em cabarés desde os 20 anos. Ela gostava de cantar, dançar e se gabava para todos de ter conhecido também atores que mais tarde ficaram famosos. Todos a elogiavam porque ela tinha uma voz linda e um físico, que como ela mesma dizia: “não foi à toa mas fiz girar a cabeça de todo mundo”. Ela era muito sofisticada nas roupas e sempre dizia que, acabada a guerra, finalmente poderia começar a comprar roupas novas e seguir a moda da época.

Ela sempre contava essas mesmas cenas sentada, enrolada nos lençóis, na cama ortopédica do quarto de 4 leitos da RSA onde estava internada há dois anos porque “não conseguia mais ficar sozinha”. “Mas você não pode andar? Por que você não se levanta?" Adalgisa faz o gesto de baixar a voz e pede ao interlocutor que se aproxime um pouco mais. “Vamos falar baixo aqui, até as paredes têm ouvidos. Veja, eu sempre me vesti de uma certa maneira, você não imagina sabe-se lá o quê, mas nunca um fio de cabelo fora do lugar, uma mancha no vestido... aqui me obrigam a vestir um agasalho porque dizem que é mais confortável. Mas para quem é mais confortável? Para eles. Eu uso o agasalho, e acho que esse que estou usando nem é meu, eu ia dizendo, nunca usei o agasalho na minha vida, nunca gostei e nunca fiz nem ginástica, Eu já me movi bastante enquanto dançava.

Aqui, porém, todo mundo de macacão, homens e mulheres, às vezes corta o cabelo tão curto que você até tem dificuldade para reconhecer o sexo de uma pessoa. Com o terno somos todos iguais, obviamente não servi militar, mas aqui é pior que quartel. Nunca recebo visitas mas é melhor assim porque teria vergonha de ser visto nestas condições. Adoraria ter um vestido elegante e sair para passear pela cidade." Quanto custa ao Estado, à sociedade, fazer uma idosa se vestir bem?